Artigo | Compliance & perspectivas para 2021: uma visão otimista!

Por José Guimarães, auditor, advogado, presidente da Comissão Compliance Nacional Online e coordenador do curso de Pós-graduação em Compliance da FBD

Estamos iniciando o ano e, sem dúvidas, com muitos aprendizados de 2020 para a área de Compliance. Numa brevíssima retrospectiva, podemos afirmar que, inicialmente, a visão do Compliance era essencialmente detectiva. Desde a sua origem, o Compliance estava focado na análise do cumprimento de normas, políticas e procedimentos. Com o passar do tempo, os desequilíbrios econômicos entre competidores íntegros e corruptos foram se tornando públicos, assim como se tornaram mais condenáveis os atos de corrupção, por sua capacidade de quebrar grandes empresas. Este cenário deu origem ao que chamamos de implementação mundial das leis anticorrupção.

Foram justamente as situações de crise e corrupção – como o caso Siemens e a própria operação Lava Jato – que fizeram com que o sistema de Compliance, integridade e ética corporativa começasse a ser visto mais amplamente como estratégia necessária e efetiva para o combate à fraude, aos desvios e à corrupção.

Costumo dizer que, com a Operação Lava Jato, “o Brasil remiu 30 anos em 5 anos”, se levarmos em conta o tempo que demorou para a lei americana anticorrupção sair do papel. Hoje, já temos uma realidade bem diferente daquela vivida no passado recente, principalmente do ponto de vista das grandes empresas contratantes, que passaram a estar sujeitas a assumir responsabilidade objetiva por atos de seus parceiros e fornecedores.

Neste contexto, houve uma evolução clara para o Compliance, que deixou de adotar uma perspectiva meramente detectiva para assumir uma visão sistêmica integrada, com foco ampliado em três grandes pilares. O primeiro deles é o pilar da prevenção, composto pelo apoio concreto e real da alta administração e por iniciativas nas áreas de governança, análise de riscos, Código de Ética, políticas, procedimentos, treinamento, comunicação, gestão de fornecedores e terceiros, além, em minha visão, da implantação do canal de denúncias. O segundo pilar é o da detecção, que inclui o canal de denúncias propriamente dito e as atividades das equipes de investigação, auditoria e controles. Já o terceiro pilar é o da resposta, com o Comitê de Ética como instancia decisória para a aplicação das medidas punitivas.

Esta evolução no valor e importância do Compliance pode ser observada claramente quando analisamos o seu conceito. Há seis anos, as definições de Compliance se resumiam a duas linhas de elementos básicos. Hoje, o conceito absorveu uma série de fatores e, para entendermos a dimensão e o alcance desta transformação, trago para vocês o meu próprio conceito de Compliance. Trata-se do “sistema de gestão implantado para evidenciar que as empresas públicas e privadas estão de acordo com a lei, a ética, a integridade, o Código de Ética, as normas, políticas, procedimentos, sustentabilidade, dignidade humana, e a governança adequada, com a finalidade de desenvolver a prevenção, detecção e punição dos atos ilegais e antiéticos, com o objetivo de combater a fraude e a corrupção, mitigar os riscos estratégicos, de imagem, reputação, enraizando cultura humanizada de integridade, inclusão e antidiscriminação, gerando economicidade, ambiente íntegro, seguro e sustentável, vida longa e próspera para as organizações, pois é bom para todos”.

O próprio Governo Federal – por meio da PF, CGU, e Ministérios da Saúde, Infraestrutura e Agricultura – vem exercendo um papel importante, implantando programas de Compliance e combate à corrupção nos órgãos e empresas estatais federais, num exemplo seguido por vários estados e algumas capitais.

Portanto, e especialmente após este primeiro ano de pandemia, saímos de um modelo de Compliance barroco para um modelo de Compliance moderno. Com a necessidade de maior agilidade, eficiência e sentido, as empresas e o mercado vêm valorizando a implantação e gestão dos programas de Compliance e Integridade, em todos os sentidos, e em especial com muitos treinamentos, pois se viu a importância da iniciativa e a diferença entre empresas que tinham programas nesta área (e conseguiram sair fortalecidas do processo) e as que não tinham, e se enfraqueceram, em decorrência da luta intensa para preservar seus caixas e combater fraudes, em evolução crescente, com o home office e a migração para o ambiente virtual.

O que percebemos ouvindo em 2020 executivos de Compliance de mais de 40 grandes empresas na Comissão de Compliance Nacional (veja aqui o canal do YouTube), foi que os grandes clientes estão muito atentos e investindo em seus programas de Compliance e Integridade, não só com foco na valorização de marca e imagem (com o Compliance associado à responsabilidade social) -, mas, principalmente, também com a adoção de graus de riscos de integridade para os seus fornecedores.  Hoje, a Petrobras, Braskem, AG, Vale, Pepsico, Danone, BRF Foods, Embraer, NOVONOR, Siemens, CCR, MRV, Localiza, Ifood, 99, TechnipFMC, Grupo Solvi, ENAUTA, Grupo Votorantim, Volkswagen do Brasil, ArcelorMittal Brasil, Ambev, USIMINAS, YPERA LifeSciences, Hospital Israelita Albert Einstein, Votorantim Cimentos, AthiéWohnrath, Accor, e muitos outros grandes contratantes do país, não têm interesse em fornecedores com Grau Risco de integridade Alto (GRI alto)  Por sua vez, os fornecedores que estão com  programas de integridade em implementação ou implantados, e classificados com GRIs em nível médio e/ou baixo, certamente estão sendo beneficiados.

É claro que existe um longo caminho pela frente, mas estamos otimistas. O Compliance em 2021 vai continuar crescendo e diferenciando fornecedores, clientes e empresas. Haverá investimentos na contratação de especialistas certificados, em tecnologia, capacitação e integração de sistemas de CGR, além de certificações internacionais ISO 37001, principalmente porque os empresários estão entendendo que realmente Compliance é um bom investimento, ainda mais agora com as mudanças na lei de licitações, que vai passar a trazer conceitos de Compliance como análise de riscos (inc. 26, art. 6º.; art. 102), sustentabilidade, impactos ambientais e certificações, além de controles das contratações e outros (artigo 168),  que integram o projeto da nova legislação.

O que ganhamos com as crises?

Dos desafios iniciais à pandemia, veja lições das crises que ajudaram a Qualidados a chegar aos 27 anos entre os destaques do Ranking da Engenharia Brasileira.

Poucos dias antes de comemorar, em 31 de agosto, seu aniversário de 27 anos, a Qualidados recebeu um presente especial. Em um evento on-line que atraiu mais de 4 mil acessos, reunindo alguns dos mais importantes empresários do País, a revista O Empreiteiro elegeu a empresa baiana como um dos destaques  do Ranking da Engenharia Brasileira 2020, que este ano avaliou 370 construtoras, projetistas, companhias de montagem industrial e firmas de serviços de engenharia.

Entre as empresas do segmento projetos e consultoria, a Qualidados foi eleita a segunda maior do Norte e Nordeste.  No ranking nacional por receita, ficou em 28o lugar entre as projetistas e gerenciadoras e em 21o na lista das maiores variações de receita do segmento projetos e consultoria, graças a um respeitável crescimento de 36% no ano.

O desempenho positivo ganha um sentido especial diante dos desafios que a crise gerada pela pandemia do coronavírus trouxe não só para a Qualidados, mas para todo o setor. Não é a primeira vez, no entanto, que reviravoltas no mercado obrigam a empresa baiana a se reinventar, testando a sua capacidade de sobrevivência. E foi pensando nisso que resolvemos contar um pouco da história de alguns dos principais desafios enfrentados pela empresa nestes 27 anos, e as lições aprendidas com a sua superação. Confira:

            Estratégia inicial – Quando a Qualidados surgiu, em 1993, o Brasil passava por uma crise econômica, com inflação galopante. Ainda assim, o Polo de Camaçari vivia uma fase efervescente, com interesse crescente por ferramentas de TI para planejamento, acompanhamento e controle de serviços de engenharia. Funcionários de empresas no Polo, os engenheiros Maurício Simões e Luiz Henrique Costa viram neste cenário a oportunidade de abrir seu próprio negócio, oferecendo ao mercado serviços de gerenciamento de projetos com um diferencial: a associação entre engenharia e tecnologia da informação.  Maurício conta que os primeiros cinco anos da Qualidados “foram muito duros, mas dentro da normalidade, como acontece com qualquer empresa nova”.  O acerto da estratégia inicial permitiu que a empresa se consolidasse como fornecedora de serviços ao Polo.

A chegada dos anos 2000 foi marcada pelo ingresso na empresa de um novo sócio, o engenheiro Claudio Freitas.  O contexto era de expansão das atividades da empresa para os serviços de gestão e planejamento de paradas de manutenção. “Como era uma atividade na qual tinha uma grande experiência, surgiu uma sinergia interessante nesse processo”, explica Claudio, ao contar que seu ingresso coincidiu também com a conquista do primeiro contrato de planejamento de paradas na Ciquine (empresa do Polo onde havia atuado), além de ter culminado com o primeiro contrato da Qualidados com a Petrobras, por meio da Refinaria Landulpho Alves (RLAM))
“Muitos dos desafios vividos pela empresa ao longo de sua primeira década estavam ligados aos fluxos de retração e expansão do Polo”,  analisa Jane Carvalho,  que ingressou na empresa em 2001, a princípio como colaboradora e depois como sócia-diretora. Como exemplo de mudanças de impacto no Polo, Jane cita a reestruturação de capitais que resultou na aquisição da antiga Copene pelo consórcio Odebrecht/Mariani, com a criação da Braskem.  Em 2002 – depois da experiência bem-sucedida de prestação de serviços para a Petrobras/RLAM, a Qualidados fechou seu primeiro contrato fora da Bahia, iniciando um ciclo de expansão de fronteiras.

            Gestão responsável – Já os anos de 2009 e 2010 foram marcados por uma forte retração na economia internacional, que gerou reflexos para a indústria do Brasil e, consequentemente, para a Qualidados, a essa altura já consolidada como fornecedora de grandes empresas como Petrobras e Gerdau. Apesar dos desafios, Maurício conta que a empresa conseguiu sair fortalecida dos abalos do mercado.

Um dos fatores que contribuíram para isso foram os investimentos contínuos em gestão. “Fomos pioneiros na certificação pelo Sistema de Gestão, e investimos em Planejamento Estratégico desde que éramos uma microempresa”, recorda Jane.  Para ela, porém, o que levou de forma decisiva a Qualidados a sobreviver a esta – e também a outras crises – foi a ênfase em uma gestão sustentável e responsável. “Vimos muitos fornecedores que trabalhavam com preços baixos na esperança de crescer rapidamente quebrarem porque a Petrobras mudou a sua política contratual e eles não tinham provisionado recursos para honrar seus compromissos”, conta.

Diversificando o portfólio –  A crise mais difícil foi a gerada pela redução drástica nos investimentos da Petrobras, como reflexo das atividades da Operação Lava Jato.  “Havíamos criado uma plataforma de atendimento diferenciada para atender à Petrobras e a demanda era tamanha que não nos preocupamos em diversificar o portfólio de clientes”, recorda Maurício. Surpreendidos pela suspensão de vários contratos – num momento em que a empresa vinha investindo e crescendo de forma acelerada – os sócios foram obrigados a repensar sua estratégia de negócio.

Mais uma vez, a solidez da empresa, proporcionada pelo foco na gestão responsável, fez toda a diferença – mas algumas lições fundamentais ficaram da experiência. “Aprendemos, entre muitas outras coisas, a importância de não colocar todos os ovos na mesma sacola e de valorizar os colaboradores que fazem diferença em qualquer situação”, resume o empresário.

E a pandemia? – Agora, diante das turbulências geradas pela pandemia, a Qualidados foi obrigada a responder de forma ainda mais ágil. Um comitê de gerenciamento de crise foi criado logo no início da pandemia e um trabalho intensivo foi feito junto aos clientes, para garantir a continuidade dos contratos.  Estas e outras medidas, e empenho de toda a equipe, fizeram com que a Qualidados se adaptasse ao novo cenário com mais facilidade do que o esperado. Para Jane Carvalho, o resultado pode ser reflexo dos investimentos em inovação mantidos pela empresa desde 2014. “A cultura de inovação é justamente isso: tomar decisões de forma ágil, trabalhar de modo colaborativo, e aprender a conviver com o risco”, ensina. “Hoje, com certeza, estamos mais preparados para enfrentar as incertezas dos momentos de crise do que no passado”, resume.

 

Oito dicas para sobreviver a crises

Veja as recomendações de Maurício Simões para empreendedores

  1. Esteja sempre preparado para uma crise: mais cedo ou mais tarde ela chegará.
  2. Nunca pense que já chegou a pior fase da crise. Sempre existe mais um degrau a descer, e é preciso estar preparado para ele.
  3. Torne os seus processos mais simples e ágeis. Assim, você possibilita mudanças rápidas, caso seja preciso.
  4. Pense fora da caixa. Às vezes, em situações extremas os métodos tradicionais não dão certo e, ao exercitar o diferente, novos horizontes se abrem.
  5. Experimente formas diferentes de trabalhar. Valorize as entregas (qualidade e tempo) em detrimento da hora trabalhada. Mas estabeleça com clareza o que espera de cada colaborador.
  6. Mantenha e aprimore os bons líderes, e valorize os seus colaboradores. São eles que podem suportar a onda junto com você.
  7. Seja proativo nos acordos comerciais. Não deixe para mitigar os riscos depois: você pode não ter mais esta oportunidade.
  8. Acima de tudo, cresça de forma sustentável, mantendo suas provisões em dia e preparando um caixa para os imprevistos.

Mercado de celulose se mantém aquecido diante de crise

Não é novidade o momento econômico delicado em que o país vem passando nos últimos meses. Diversos segmentos da indústria viram suas perspectivas de crescimento, que vinham sendo bastante favoráveis, caírem de forma desanimadora, o que fez muitas empresas repensarem seus investimentos já que o mercado não propõe um cenário favorável. Entretanto existem setores que vêm se beneficiando e crescendo com perspectivas muito positivas. Este é o caso do mercado de celulose no país, que apesar da crise se mantem como o maior produtor do mundo.

A estimativa da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) é que devem ser investidos ainda no segmento de celulose no país mais de R$50 Bilhões até o ano de 2020. Este é um mercado que deve manter o crescimento, já que o Brasil exporta mais de 90% da produção de celulose e se beneficia bastante da alta do dólar.

Confira aqui dados gráficos recentes sobre o mercado de celulose no Brasil.

Motivação extra em tempos de crise: O caso de Nizan Guanaes

No dia 18 de outubro foi realizada a meia maratona de Amsterdã. Para Nizan Guanaes, publicitário baiano radicado em São Paulo e presidente do Grupo ABC, foram longos 21km de sua primeira maratona, mas o resumo de um trajeto de superação. Você vai entender o porquê.

Nizan Guanaes possuía nada mais nada menos que 160 quilos e com perspectiva de possivelmente chegar aos 200. Era fumante, seus hábitos alimentares não eram os mais recomendáveis e ainda bebia muito. Tudo isso mesmo tendo pleno conhecimento do histórico de complicações cardíacas dos seus familiares.

Quando jovem, se dedicou exclusivamente a sua carreira profissional, abrindo mão da sua saúde e de outras dimensões da vida. Consequentemente, pela falta de cuidados consigo mesmo fora do ambiente empresarial, sua carreira profissional começou a sentir duramente o reflexo desta desatenção.

Citando o livro “On Managing Yourself” (No gerenciamento de si mesmo), publicado pela Harvard Business School, Nizan o coloca como o que há de mais moderno. A última palavra em gestão, e não um livro de autoajuda, mostra que a melhor medida empresarial é a gestão da própria vida pessoal.

Em suas palavras, o que esse esplêndido livro de Harvard propõe é que gerenciar a própria vida é a medida empresarial número 1.

Nizan chegou então à conclusão que algo deveria ser feito a respeito. Percebeu que se continuasse no caminho que vinha a seguir sua vida não teria longa duração. Adotou um novo estilo de vida que trouxe resultados bastante satisfatórios nas variadas áreas da vida.

Para Nizan, esses 21 km são a medida de uma reinvenção profunda. A revolução intensa nele e em seu corpo resultou numa transformação que antes parecia inimaginável. Com o propósito que originalmente era de sobreviver acabou se reinventando e descobrindo uma vida mais profunda, intensa, saborosa e sofisticada.

“A vida de Nizan, 170 quilos, era essa vida abandonada. A vida empresarial é um moedor de carne. Se você não a domina, ela engole você. Ela engole seu corpo, sua família, suas relações. Ela come tudo.”

Nizan Guanaes, Publicitário e presidente do Grupo ABC

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