Como podemos crescer junto com as startups?

Como podemos crescer junto com as startups?

Por Jane Carvalho, sócia-diretora da Qualidados Engenharia

Nos últimos meses, os colaboradores da Qualidados começaram a se acostumar com a presença de uma galera diferente frequentando a nossa Sede:  um grupo formado por gente jovem e sem muita formalidade, esbanjando energia e ideias criativas.  O burburinho nos corredores é apenas um primeiro efeito (e ainda superficial) da enorme transformação que a aproximação com o mundo das startups pode trazer para uma empresa como a nossa, já consolidada no negócio de gerenciamento de projetos no país.

Mas como conduzir uma transformação deste tipo? Qual o caminho a tomar para crescer junto com estes empreendedores do mundo digital?  De que forma mobilizar organizações com perfis tão diferentes em torno de objetivos comuns?

Estas perguntas se tornaram cruciais desde que a Qualidados decidiu dar um novo salto de investimento em inovação.  Em 2019 – pouco antes da comemoração dos nossos 26 anos – aderimos ao Nexos, uma iniciativa do Sebrae Nacional e da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). No programa, startups recebem orientação e investimento e, em contrapartida, as patrocinadoras contam com suporte para financiar seus projetos via acesso a linhas de fomento.

No mesmo ano, lançamos um evento de inovação, o QD Connect.  Aqui a ideia foi atrair também startups e empresas de base tecnológica para gerar conexões, parcerias e negócios com foco em soluções inovadoras para aprimorar nossos serviços.

Nosso movimento segue uma tendência muito mais ampla. Depois que a ação disruptiva de empreendimentos como Netflix, Airbnb e Uber abalou as estruturas de mercados inteiros, as  organizações tradicionais parecem ter despertado de vez para os benefícios das parcerias com startups. De modo geral, porém, a estratégia surge quase sempre como  possibilidade a ser explorada por grandes corporações.  No topo do último ranking das empresas que mais fecham negócios com startups no Brasil – publicado anualmente pela plataforma 100 Open StartUps (www.openstartups.net) – estão gigantes como BMG, Natura e a multinacional Accenture.

Como empresa de médio porte, e sediada no Nordeste, a Qualidados tem muitos desafios a vencer em sua nova empreitada.  Neste momento, em que estamos dando os primeiros passos na construção das parcerias, os modelos possíveis para criar sinergia são inúmeros. Nos projetos fomentadas pelo programa Nexos,  ingressamos como investidores financeiros. Em outros casos, pode ser mais interessante optar por uma parceria comercial ou ainda  contratar a startup para atuar como uma espécie de fornecedora, desenvolvendo tecnologia para ser incorporada ao nosso negócio.

Seja qual for a solução encontrada, um fator que me parece chave é a necessidade de construir uma verdadeira relação ganha-ganha, baseada em uma proposta de valor que satisfaça ambas as partes.  E esta construção só é viável a partir da busca de um equilíbrio entre os perfis de cada parceiro.

A contraposição entre empresas tradicionais e startups é bem conhecida. De um lado, o peso da experiência no mercado e as vantagens de uma maior solidez e capacidade de investimento. Do outro, a velocidade proporcionada por  estruturas flexíveis e informais, altamente criativas e focadas em novas tecnologias na busca por  um modelo de negócios repetível e escalável.

Na conexão entre estes dois mundos, não há modelo ideal, nenhuma fórmula pré-concebida que possa ser aplicada sem risco pelas empresas, em qualquer cenário.  Mesmo assim, podemos ficar atentos a estratégias que permitam explorar o melhor do potencial de cada um de nós. Não é bom negócio para empresas tradicionais como a Qualidados sufocar o potencial criativo e a capacidade de crescimento das startups, “canibalizá-las” de forma predatória e com exigências burocráticas. Ao mesmo tempo, teremos pouco a ganhar (e mesmo muita a perder) com parcerias que não estejam em sintonia com a nossa expertise e alinhadas às nossas necessidades. Entre um e outro cenário, há um mundo de possibilidades que estamos prontos para explorar, crescendo junto com as startups.