A revolução do bem

A revolução do bem

Pandemia deflagra onda de solidariedade e reacende o interesse nas descobertas científicas sobre o poder transformador da compaixão.

Diante da ameaça do coronavírus, nossa sociedade vem assistindo a verdadeiras ondas de solidariedade. São jovens se mobilizando para prestar serviços gratuitos a idosos isolados; grupos que se cotizam para doar produtos de limpeza a populações carentes; psicólogos prestando atendimento on-line gratuito a pessoas em sofrimento e até funcionários de um abrigo levando crianças para casa para protegê-las da contaminação.

Muito antes, no entanto, da solidariedade virar questão de sobrevivência coletiva,  pesquisadores de vários campos da ciência vêm alertando para o fato de que a compaixão e a generosidade são não apenas tendências inatas no ser humano como podem ser estimuladas e desenvolvidas a qualquer momento, para o bem da sociedade como um todo e, principalmente, daqueles que praticam estas qualidades.

O argumento está no centro das reflexões levantadas no documentário “A Revolução Altruísta”. Dirigido pelos cineastas Sylvie Gilman e Thierry de Lestrade, o filme é baseado no livro homônimo do monge budista Mathieu Ricard, que compilou o resultado de pesquisas científicas realizadas ao longo dos últimos 30 anos nos campos da psicologia, biologia evolutiva, economia e neurociência.

Quer um exemplo? Em uma série de experimentos publicados nos últimos anos, os psicólogos  Felix Warneken (Harvard)  e Michael Tomasello (Max Planck Institute) demonstraram que bebês de 14 a 18 meses expressam  espontaneamente  vontade de ajudar os outros diante de situações simples, como alguém com dificuldade para pegar uma pregador no chão ou colocar uma pilha de revistas dentro do armário. E o mais interessante é que o comportamento se mantém mesmo quando isso envolve alguma dificuldade ou interrompe a brincadeira.

Outras pesquisas apontam ainda para os efeitos positivos da compaixão no cérebro. “Quando ajudamos alguém devido a uma preocupação genuína por seu bem-estar, nossos níveis de endorfina – o hormônio associado à sensação de euforia –  aumentam, causando o que conhecemos como o prazer de ajudar”, explica  o ex-monge budista e Ph.D. pela Universidade de Cambridge Geshe Thupten Jinpa, em seu livro “Um coração sem medo”.  Além disso, experimentos atestam que, ao expressarmos compaixão, os centros de recompensa do nosso cérebro são acionados. Curiosamente, a mesma área que se acende quando pensamos em chocolates ou guloseimas.

Mas a melhor notícia é que – ainda que vivamos numa cultura onde o que parece imperar é o individualismo – há uma série de técnicas que podem ser empregadas por quem deseja abandonar o autocentramento e exercitar uma forma mais generosa de viver. A Universidade de Stanford criou o Treinamento de Cultivo da Compaixão (TCC), um programa de oito semanas, com aulas de introdução à psicologia e  práticas de meditação guiada que ajudam a desenvolver compaixão por nós mesmos e pelos outros. O método já chegou ao Brasil e, nestes tempos de coronavírus, há até versões on-line do programa.  O mundo nunca precisou tanto disso, não é mesmo?

Quer saber mais?

Leia

A Revolução do Altruísmo, por Matthieu Ricard

Um coração sem medo – porque a compaixão é o segredo mais bem guardado da felicidade, por Thupten Jinpa

Ouça

Compaixão para quê? Podcast de entrevista com Cristiano Ramalho, professor certificado pelo Centro de Pesquisa e Ensino de Compaixão e Altruísmo (CCARE) da Stanford University

Assista

A Revolução Altruísta, documentário de Sylvie Gilman e Thierry de Lestrade. Disponível na Play Store.

Experimente

Programa Online de Cultivo da Compaixão, com Víviam Vargas. Oferecido pelo Centro Paulista de Mindfulness