No limite do esgotamento mental
Psicóloga ensina o que é a síndrome de Burnout e como podemos reconhecer os sinais deste distúrbio que leva a estados de tensão e stress crônicos no trabalho.
Nunca se falou tanto em síndrome de Burnout. Em um momento onde as pressões típicas do mundo moderno se somam aos desafios trazidos pela pandemia, a sociedade acende o sinal de alerta para este distúrbio psiquiátrico que leva profissionais ao limite do esgotamento físico e mental. Para entender melhor esta síndrome, e saber como podemos preveni-la, nós conversamos com a psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental, Educação Especial e Inclusiva, Liege Galdino. Confira:
O que é a síndrome Burnout e como surgiu?
A síndrome de Burnout – também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional – foi descrita pela primeira vez pelo médico alemão Herbert Freudenberger em 1974. A expressão vem do inglês “burn out”, que significa “queimar por inteiro”. É um distúrbio psíquico que tem como principal característica o estado de tensão emocional e stress crônicos provocado por condições de trabalho desgastantes dos pontos de vista físico, emocional e psicológico.
O que difere a síndrome de Burnout de situações de stress no trabalho?
Em situações de stress, todo o nosso esforço está concentrado para um objetivo, o que nos deixa em estado de alerta, demandando energia e tirando nossa tranquilidade. Ao alcançarmos o resultado, porém, descansamos e seguimos rumo à jornada seguinte. Já uma pessoa com síndrome de Burnout não tem condições físicas e emocionais de dar conta mesmo de tarefas mais simples. Trata-se de uma situação no qual o estado físico e emocional do indivíduo fica fortemente comprometido.
Porque há tanto interesse pela síndrome? Há crescimento no número de casos?
Fatores como competitividade, carga de trabalho elevada e queda nas condições e na qualidade de vida têm contribuído para um crescimento da Síndrome em todas as classes sociais, e este cenário vem sendo potencializado nos últimos tempos pela pandemia da covid-19. Em minha prática clínica tenho percebido um aumento no número de casos de trabalhadores em sofrimento pela própria angústia da pandemia, que veio nos trazer muitas incertezas, perdas e sofrimento.
Como a síndrome de Burnout se desenvolve?
A síndrome se manifesta em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso, que vivem sob forte pressão, num ambiente de desvalorização e cobrança. Geralmente, o indivíduo começa com foco exagerado no trabalho e esquece lazer, família, vida social. Em algum momento, começa a ficar cansado e impaciente com colegas e família. É quando surgem os sintomas ansiosos. Depois vem a exaustão, a apatia. Esgotado, ele não vê mais graça no mundo; aí surgem isolamento e tristeza. Em alguns casos, adota comportamentos impulsivos para tentar buscar energia, abusando de cafeína e álcool, com compras excessivas e compulsão alimentar
Como a pessoa pode identificar em si o surgimento do problema?
A síndrome de Burnout surge com sinais de alerta, por isso, precisamos entender nosso corpo e como ele reage quando está sob pressão, ficar atentos as nossas emoções e sentimentos, a reações de irritabilidade, insegurança, negatividade, preocupação excessiva e também a sintomas físicos como enxaqueca, cansaço intenso, dores musculares, alteração nos batimentos cardíacos e no apetite, distúrbios gastrointestinais, insônia, dificuldade de concentração e memória. Todos estes são sinais que podem indicar que chegou o momento de buscar ajuda.
Quais orientações você daria a alguém nesta situação?
Não se envergonhe ou tenha medo de falar sobre o que você sente. A ajuda de um profissional de saúde (psiquiatra, psicólogo ou neurologista) é imprescindível. Se você não tem forças para ir sozinho, busque o RH de sua empresa ou alguém de confiança e fale: falar faz toda a diferença para que haja a intervenção o mais cedo possível.
E como prevenir a síndrome de Burnout?
A prevenção deve ser sempre em está atento ao nosso cuidado interior, precisamos cuidar de nossa vida com carinho e atenção. Às vezes, vivemos no automático, achando que somos máquinas e não nos damos conta de que é preciso rever nossa forma de viver. Além disso, um ambiente de trabalho saudável certamente nos proporciona uma qualidade de vida melhor. Por isso, são tão importantes a relação afetiva e de respeito entre os colegas, a promoção de atividades prazerosas, a cobrança de forma leve e compreensiva. Vivemos melhor quando somos bem tratados, respeitados e valorizados.