Para ser ágil basta ser rápido? Um olhar para a agilidade organizacional a partir do Manifesto Ágil.
Independentemente da área de atuação, é muito possível que você já tenha ouvido frases como: “precisamos ser mais ágeis”; “temos que ter um mindset mais ágil”. Essas são frases comuns no dia a dia das organizações. Porém, quando pensamos em ser mais ágeis, é provável que a mente humana faça uma analogia à velocidade e às startups de tecnologia.
Esse pensamento de toda forma não está errado, pois, por definição, ágil é aquilo “que se movimenta com excesso de facilidade; que se move de maneira rápida; veloz” (ÁGIL, 2022), e atualmente as maiores empresas do mundo são empresas de tecnologia que cresceram de forma abruptamente rápida para os modelos convencionais, com times enxutos, soluções escaláveis e utilizando em sua maioria métodos ágeis, características atualmente atreladas às startups.
O problema de tomarmos apenas esses pensamentos como parâmetro é nos limitarmos e ficarmos restritos a poucas opções para uma implementação de uma cultura ágil. Além de gerar distorção dos reais motivadores para a adoção da cultura, assim como uma perspectiva precipitada dos resultados.
É comum escutarmos: “gestão ágil não é para a minha empresa/setor, já que eu não trabalho no desenvolvimento de tecnologia.” Ainda há os que vão além e levam treinamentos ágeis para suas companhias, mas distorcem as expectativas dos resultados, imaginando que após a capacitação todos farão entregas mais rápidas. Essa visão viciada e equivocada nos leva à seguinte pergunta: será que ser rápido é o grande objetivo ao desejar ser uma organização ágil?
Olhando para o Manifesto Ágil
Com certeza você já ouviu falar do Manifesto Ágil ou Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software. Ele foi criado em 2001 e pode ser considerado um marco para o estabelecimento de uma cultura ágil. Isso mesmo: cultura. De uma forma simples, ele é fruto de um trabalho de 17 desenvolvedores que buscavam alternativas para melhorar os processos de desenvolvimento de softwares. Porém, no manifesto são estabelecidos quatro valores principais:
• Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas;
• Software em funcionamento mais que documentação abrangente;
• Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;
• Responder a mudanças mais que seguir um plano.
Esses valores, também conhecidos como valores ágeis, moldam e direcionam as decisões dos times de desenvolvimento ágil. O curioso é que dentro deles percebemos que não existe nada que cita velocidade ou rapidez. O grande direcionador é pautado em gerar valor para e com os clientes de forma dinâmica, através de interações dos indivíduos que compõem os times, respondendo sempre às mudanças em prol de um valor maior ainda.
“¹Nossa maior prioridade é satisfazer o cliente através da entrega contínua e adiantada de software com valor agregado. ²Mudanças nos requisitos são bem-vindas, mesmo tardiamente no desenvolvimento. Processos ágeis tiram vantagem das mudanças visando vantagem competitiva para o cliente.” (BECK et al., 2001)
Utilizando uma analogia simples, precisamos entregar pequenos cupcakes, em vez de gastar energia e recursos para fazer um bolo no primeiro momento. Desta forma, desde o início, conseguimos gerar valor para o cliente, utilizando poucos recursos, energia e tempo, saciando as necessidades dele e propiciando constante alinhamento para que as entregas sejam cada vez melhores até a conclusão.
Ou seja, por mais que velocidade seja extremamente importante, ela não é o fator principal a ser buscado, e sim uma consequência. Primeiro é necessário que os times consigam absorver a essência da cultura ágil. O ciclo virtuoso se inicia quando a prioridade passa a ser o real entendimento das necessidades dos clientes internos e externos e as interações buscam entregar valor de forma fracionada e incremental até que toda a necessidade seja atendida.