Indústria 4.0 e o indicador Wrench Time: uma abordagem sobre os avanços tecnológicos e as novas possibilidades de utilizar esse indicador de maneira mais assertiva.

Por: Bruno Assis
Coordenador de PDI da Qualidados Engenharia

Não é novidade que o setor de manutenção vem ganhando evidência e possibilitando diferenciais competitivos frente a um mercado cada dia mais globalizado e exigente.

A indústria 4.0 vem causando uma transformação nos processos das indústrias em geral, não sendo diferente com o setor de manutenção. Tecnologias como automatização, dispositivos interconectados, sensores, nuvem, gateways, big data e outros recursos do IoT, vêm possibilitando uma revolução na esfera da manutenção industrial e entregando cada vez mais valor às empresas.

Em busca de diferencial competitivo, essas indústrias investem, cada vez mais, para aperfeiçoar seus processos, descobrir ferramentas, modos que possibilitem reduzir desperdícios e, ao mesmo tempo, aumentem a produtividade e a qualidade.

Dentro desse universo que é a manutenção, o indicador de Wrench Time, traduzindo do inglês “tempo de chave”, ganha cada vez mais destaque. Com os avanços tecnológicos, atividades e ferramentas antes consideradas abstrusas, tornam-se pragmáticas e assertivas. O Wrench Time, também chamado de “Fator de produtividade”, é um dos principais indicadores para a Gestão da Manutenção, possibilitando entender como está o desempenho dos funcionários, qual é o tamanho dos desperdícios da sua operação e onde estão os principais gargalos.

E como o indicador de produtividade “Wrench Time”, aliado com novas tecnologias, pode suportar nesse processo de busca pela excelência operacional?

O Wrench Time é um indicador que revela o porcentual do tempo total em que um profissional da manutenção de fato gasta com atividades produtivas, ou seja, aquelas que agregam valor para a empresa e estão descritas em seu plano de manutenção. Desconsideram-se atividades, tais como, tempo de deslocamento, emissão de documentos, busca de ferramentas ou peças, reuniões, abertura de ordens, etc…

O desafio maior de controlar esse indicador não está no cálculo, mas em conseguir coletar os dados de forma assertiva.

Conforme apresentado na fórmula matemática abaixo, os cálculos para definir esse indicador são extremamente simples.

No entanto, os métodos tradicionais (sem recursos tecnológicos) utilizados pelas empresas não estão aptos a entregar praticidade e exatidão para monitorar esse indicador, e assim não existe uma robusta confiabilidade dos dados coletados. Seguem listados algumas dessas maneiras:

  • Entrevistar o funcionário

Ir ao Gemba e colher relatos dos funcionários sobre a atividade que realizou, buscando uma estimativa do tempo produtivo e ocioso de cada tarefa realizada.

  • Monitoramento visual

Esse método consiste em realizar um monitoramento visual dos colaboradores e registrar o tempo produtivo despendido em cada atividade.

  • Método estatístico

Aqui, se adota um grupo de amostragem maior. Entre os métodos adotados sem recurso tecnológico, esse é o que mais se aproxima da realidade, mas, mesmo assim, possibilita margens de erros consideráveis.

Com os exemplos acima, percebe-se que os modelos tradicionais adotados estão ultrapassados, e, de fato, apresentam baixa confiabilidade, potencializando, assim, entendimentos incorretos, tomadas de decisões equivocadas e investimentos mal alocados.

O surgimento de novos recursos tecnológicos vem transformando o controle do Wrench Time, possibilitando maior robustez e valor ao processo.  Está cada dia mais claro a sua importância e como um monitoramento bem-feito pode revelar pontos, antes imperceptíveis, de falhas na operação e suportar diretamente em um melhor entendimento de outros indicadores críticos, como, por exemplo, custos, homem-hora e backlog.

Além dos pontos já mencionados anteriormente, ter implementado um sistema tecnológico robusto do controle de Wrench Time poderá ainda entregar outros inúmeros benefícios.

Alguns exemplos abaixo:

  • Melhor entendimento sobre o desempenho do planejamento da manutenção;
  • Com um melhor entendimento do planejamento, é possível alocar melhor os investimentos e, com isso, diminuir custos e desperdícios;
  • Planejamento de qualidade reduz os tempos de espera;
  • Equipe de manutenção bem planejada e com boa performance viabiliza ativos de boa qualidade, o que possibilita melhor produtividade e capabilidade de processo;
  • Redução de ações corretivas, focando em manutenções preventivas;
  • Dados confiáveis possibilitam medições assertivas, consequentemente bons ciclos de melhoria contínua.

Apesar dos pontos positivos, é preciso atenção em relação à qualidade. Mesmo atingindo bons níveis do indicador de produtividade, se as entregas forem de baixa qualidade, o processo não pode ser considerado eficaz.

Estudos revelam que o valor referente ao Fator de Produtividade no Brasil está entre 12 e 25%. Nota-se que é uma fração muito pequena do trabalho de um funcionário da manutenção que é gasto com atividades que agregam valor para a empresa. Diante dos números revelados nesses estudos, percebe-se que temos um mundo de oportunidades a serem exploradas que permitirão ao Brasil atingir índices que impulsionem a produtividade do país, tais como investimentos no ambiente fabril, melhorias de processo, capacitação de mão-de-obra e o mais importante: desenvolvimento tecnológico.

Conclui-se assim que, em mercados altamente competitivos, empresas se veem obrigadas a investir em seus diferenciais. É imprescindível flexibilidade, estar aberto às mudanças e o principal: estar atento às novas tecnologias que possibilitem identificar e corrigir falhas rapidamente, gerando maior valor aos negócios e possibilitando aprender muito com esse processo.

QualiDados. Engenharia com Tecnologia

Uma abordagem sobre o setor de manutenção nas Indústrias 4.0 e 5.0

Indústria 4.0 e Sociedade 5.0 estão ganhando atenção dos negócios, pois vários paradigmas e contradições estão deixando todos preocupados.

Por: Kaio Majewski Monteiro
Engenheiro de confiabilidade da Qualidados Engenharia

A chegada da indústria 5.0 não substitui tudo que se conhece da 4.0 e tão pouco a torna obsoleta. A principal ideia da indústria 5.0 é usar a tecnologia desenvolvida na indústria 4.0 e se beneficiar do comportamento humano. A manutenção na indústria 4.0 tem algumas implicações na organização e forma de gerenciamento. Com toda a informação e digitalização, existe a necessidade de um ambiente virtual totalmente seguro e efetivo, com segurança da informação. Os softwares que atendem as indústrias ainda são caros e às vezes de difícil acesso e conhecimento. Portanto, nasce a necessidade da consultoria para casos de curto e longo prazo de utilização dos mesmos.

Entretanto, toda estratégia industrial deve ser pensada e aprovada a nível gerencial, mesmo quando tratadas digitalmente, pois existem custos e valores atrelados a estas decisões. Um grande passo para adaptação e correta utilização dos softwares e sistemas em rede será a integração da sociedade 5.0, que consiste na valorização e parceria do ser humano com os equipamentos.

A indústria 4.0 mostra grandes avanços tecnológicos enquanto a 5.0 mostra que a tecnologia não é tudo. Alguns objetivos da indústria 5.0 é a aproximação do humano com a máquina, com ênfase nas interações humanas. Segurança e conforto passam a ser mais visadas, enquanto os serviços tecnológicos permitem o aumento de produtividade e serviço na área industrial sem impactar o ser.

Mas um ponto de atenção é que os processos industriais, de forma geral, estão exigindo maior assertividade em resultados de inspeção, manutenção, planejamento e gestão. Grande parte destes resultados, atualmente, é transformada, por exemplo, em indicadores e informações vindas de sistemas integrados.

Com o advento da indústria 4.0 a utilização de sensores inteligentes, internet das coisas e armazenamento em nuvem passaram a ser tópico principal em todas as indústrias. Neste momento da evolução, todos os objetos físicos e virtuais dentro de um ambiente industrial passam a estar conectados.

Alguns setores industriais estão na revolução 4.0 enquanto a sociedade migra para o 5.0, onde tudo já se apresenta de forma conectada e com interação do ser humano. Um exemplo visível são as centenas de drones que iluminaram o céu de Tóquio durante as olimpíadas. O Japão possui uma integração profunda da tecnologia incluindo inteligência artificial, robótica e big data.

A sociedade 5.0 retira o medo causado pela indústria 4.0, que antes era digitalizada e gerava polêmica em torno da substituição do homem pela máquina. A indústria 5.0 traz a união e sinergia do homem com a máquina.

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O ganho da manutenção é percebido pelo avanço da tecnologia. Atualmente, a função manutenção é garantida pela disponibilidade de equipamentos com apoio de tecnologias, robôs autônomos, simulações, internet das coisas, aprendizado de máquinas, computação em nuvem, big data e realidade aumentada.

Com o apoio dessas ferramentas, a manutenção tende à redução de corretiva e melhoria no gerenciamento de ativos, pois, na mesma medida que aumenta o controle da manutenção, deve-se aumentar o conhecimento técnico para apoio. Assim, a pirâmide de gestão fica mais estruturada internamente, permitindo a suportação da gestão de ativos.

Com a necessidade de treinamentos e evolução profissional, a manutenção passa a ser mais integrada, de forma trazer a manutenção, engenharia de manutenção, confiabilidade, projeto e gestão para o mesmo nível e mesmo foco.

A manutenção baseada em condição é apoiada por todos os aspectos mencionados acima e totalmente apoiada pela indústria 4.0 e inserida na 5.0. Através de análises de equipamentos, seleção de dados e processamento adequado será feita a modelagem para apoio a uma decisão. Dessa forma, muito mais que uma revolução em si, é a possibilidade de agregar valor e tornar as decisões gerenciais mais rápidas e práticas, pois em toda mudança de padrão existe a possibilidade de atuação.

Contudo, a manutenção preditiva tem sido uma das prioridades da indústria desde que a falha de ativos críticos é extremamente impactante no risco operacional. A manutenção preditiva é indispensável no aspecto de indústria 4.0. Ela está além das corretiva e preventiva.

A manutenção no contexto da indústria 4.0 é totalmente estratégica. Ela utiliza o histórico de informações em tempo real a fim de detectar futuras anomalias e comportamentos dos equipamentos para apoiar na previsibilidade da “saúde do equipamento” e possíveis modos de falha

Em adição, por outro lado, devido às interpretações e definições, a manutenção preventiva deve ser baseada em manuais ou no tempo estimado entre falhas, enquanto a manutenção corretiva é a consequência da quebra ou falha.

Um ponto de mudança e estratégico da indústria é o que pode ser chamado de machine learning da inteligência artificial (MLAI), ou seja, aplicação da manutenção focada nos padrões comportamentais dos equipamentos. Isso permite a exclusão de modelos matemáticos que antes eram usados em preventivas e preditivas. Abrindo, dessa forma, a possibilidade para uma atuação em qualquer momento do ativo.

Independentemente do tipo de manutenção e ferramentas, o que a maior parte da manutenção preza é o prolongamento de vida útil, redução dos custos de manutenção, redução do downtime, aumento de capacidade técnica do time de especialistas, supervisores e manutentores, assim como otimização do processo de produção e dos recursos para apoio a manutenção.

Mas, sabendo que todo esse avanço está acontecendo muito rápido, claramente partimos do pressuposto de que existem algumas situações que devem ser de conhecimento básico como a curva PF.

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A curva PF representa o comportamento do ativo antes da falha funcional ter ocorrido. Mostra que a condição do equipamento sofre declínio ao longo do tempo até ocorrer a falha funcional. Logo, podemos interpretar esta falha como um processo. A manutenção corretiva ocorre logo após a falha funcional, enquanto a preventiva está baseada em intervalos específicos para evitar a falha funcional. Com a indústria 4.0, a manutenção preditiva maximiza o intervalo PF para o inicio da degradação, ou seja, onde inicia a curva, mas somente com o emprego de tecnologias pode-se observar e prever possíveis sintomas antes dos mesmos se tornarem visíveis aos humanos. Moubray, afirma que técnicas de monitoramento de condições podem ser efetivas quando usadas apropriadamente, mas quando usadas incorretamente, podem ser caras e gerar perda de tempo.

Conclui-se, dessa forma, que, mesmo que as revoluções 4.0 e 5.0 estejam acontecendo e as manutenções e inspeções estejam avançando com a tecnologia e se apoiando nas possibilidades geradas por elas, é necessário que o conhecimento básico de ferramentas e conceitos sejam disseminados e as pessoas se beneficiem de crescimento técnico para o apoio ao desenvolvimento.