Fornecedores unidos contra a crise

Empresas prestadoras de serviço da indústria se mobilizam em torno de agenda ampla para enfrentar os desafios gerados pela pandemia do coronavírus

A pandemia colocou as empresas que prestam serviço técnicos e de engenharia à indústria diante de um cenário inédito. De uma hora para outra, fornecedores viram-se obrigados a lidar com cancelamentos e reduções dos seus contratos, com consequências às vezes drásticas para o faturamento. Para completar, a crise obrigou as empresas, entre outras coisas, a rever seus procedimentos de saúde, incorporar novas práticas (como o home office) e dar agilidade inédita aos processos decisórios. A boa notícia é que muitos destes desafios estão sendo enfrentados coletivamente, graças a uma articulação inédita que contribui para dar novo impulso às reivindicações do grupo, além de abrir oportunidades de parceria e troca de informações.

A mobilização começou com a iniciativa da empresa de consultoria Brainmarket Inteligência de Negócios, de promover reuniões por videoconferência para debater os impactos da Covid-19 com empresas dos ramos de Engenharia Consultiva, Manutenção, Construção e Montagem Industrial.  Do primeiro encontro, em 17 de março, participaram 12 empresas. Sete reuniões depois, o número já tinha subido para 48, incluindo boa parte das prestadoras de serviços em segmentos industriais no Brasil.

Representação – Uma das principais deliberações do grupo durante as reuniões – que a princípio eram realizadas semanalmente e agora têm periodicidade quinzenal – foi eleger a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) como entidade representante dos seus interesses. “Logo nas primeiras videoconferências, houve unanimidade sobre a necessidade da união em torno de uma associação que buscasse equilibrar forças em processos de negociação com grandes contratantes como a Petrobras”, explica o consultor Eduardo Aragon, da Brainmarket.

Na sequência, foi criado um Comitê de Inteligência Estratégica (CIE) para atuar junto à Comissão de Obras Industriais e Corporativas (COIC) do CBIC. O grupo é formado por 19 participantes, incluindo dois representantes do CBIC (que coordenam o Comitê), 15 empresários dos diversos segmentos da engenharia nacional e dois representantes das instituições Fundação Dom Cabral (FDC) e Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEMI). A Comissão já está em sua segunda reunião, com a tarefa de encaminhar a pauta para as negociações com as empresas clientes. “Com o apoio da Câmara, será possível realizar de forma mais contundente a defesa dos nossos interesses e com isso obter resultados mais favoráveis ao nosso negócio”, acredita o sócio-diretor da Qualidados Claudio Freitas, que integra o Comitê de Inteligência Estratégica como representante das empresas de Engenharia.

Agenda ampla – Além de  reivindicações  como a liberação de retenções contratuais e alterações nas condições de pagamento dos serviços,  os executivos reunidos a partir da iniciativa da Brainmarket estão mobilizados em torno de uma agenda ampla que inclui, por exemplo, a  proposta de criação de um plano de retomada pós-pandemia, a elaboração de procedimentos para saúde ocupacional e home office e a  defesa junto aos organismos governamentais da criação de linhas de crédito para apoio às médias empresas.

Para o consultor Eduardo Aragon, a  união vai permitir que as empresas saiam na frente na preparação para o pós-pandemia. “A crise fez da agilidade uma estratégia empresarial: por isso, quem estiver preparado é que vai conseguir relargar na frente”, acredita o consultor. “É um movimento muito bem sucedido e oportuno, não somente para tratar de temas urgentes, como os impactos da pandemia nas empresas, mas, também, por criar oportunidades de associação, permitindo a discussão de assuntos relevantes e do interesse de todos”, reforça José Rodrigues, diretor comercial da empresa Engecampo Engenharia Industrial.

A sócia-diretora da Qualidados Jane Carvalho concorda. “É um cenário muito rico de aproximação entre as empresas, o que cria, inclusive, um ambiente favorável à inovação por facilitar a troca de ideias e a gestão do conhecimento”, opina Jane, ao chamar atenção para o fato de que, no cenário pré-pandemia, seria difícil promover uma interlocução deste tipo, envolvendo a alta direção  de tantas empresas.  “Se antes cada um de nós estava mais imbuído do interesse pelos problemas do dia a dia de nossas próprias empresas, hoje temos uma pauta comum”, argumenta.